Por que não acredito em vestir meu tipo de corpo
Não é de hoje que eu vejo as pessoas comprando e usando roupas de acordo com o tipo de corpo. É fácil a gente ler e ouvir frases como “Mulheres baixinhas ficam realmente melhores com vestidos curtos” ou “O modelo certo de top para valorizar todos os tipos de corpo”. (Essas duas frases eu peguei de artigos que estão nas pesquisas do Google.)
Toda essa situação parece tão absurda pra mim agora. Me lembro que, quando eu tinha meus 14 anos – e até pouco tempo atrás -, eu também acreditava no meu tipo de corpo. Isso acontece porque há anos que temos essa ideia de que temos que “se vestir para o nosso tipo de corpo”. Era o que eu lia direto nas revistas adolescentes e via nos filmes de comédia romântica. É uma dica básica que você encontra em livros, redes sociais e blogs de moda. É tão normalmente aceito que até mesmo garotas de 14 anos de idade sabem “seu tipo”.
Agora, depois de refletir, posso dizer que não sou fã de todo esse conceito, por uma simples razão:
O conceito de se vestir para o seu tipo de corpo alimenta a ideia de que existe um padrão de acordo com os ideais sociais de hoje. Faz pensar que isso é muito mais importante do que usar roupas que você realmente gosta. Mais importante do que se auto expressar através das roupas. E também que é mais importante do que poder se divertir com a moda.
Se vestir para o tipo do seu corpo é sobre a escolha de roupas que enaltecem seu corpo. Nesse sentido o “enaltecer” é na verdade apenas um código que diz “fazer você parecer mais magra, mais alta, mais ou menos curvilínea”, ou seja, qualquer que seja o seu corpo em comparação com o que é atualmente considerado o “ideal”.
É raro ouvir ou ler pessoas falando o quanto gostam de tal peça ou o quanto querem realmente usar. Na realidade as pessoas falam sobre quais tipos de jeans poderiam usar para ter tal efeito. E é exatamente isso que os posts, artigos e guias sobre os diversos tipos de corpo transmitem às mulheres. Que o objetivo principal da roupa é manipular, esconder ou minimizar seu corpo.
Além disso, eles promovem o que a maioria das mulheres já faz muito: ficar obcecada e avaliar cada pequena parte de seus corpos. Quando paramos pra refletir, percebemos o quanto isso é absurdo. É totalmente desatualizado e que traz uma mensagem perigosa pra passar adiante.
É claro que você deve se sentir confiante em tudo o que estiver usando! Mas eu acredito que a confiança deve se originar do fato de você amar sua roupa porque ela expressa seu estilo pessoal. Também pelo fato de ser exclusivamente sua, não porque faz você parecer mais magra ou mais alta.
Precisamos falar sobre as modelagens!
Eu também acho que, por causa desse conceito, somos um pouco levadas a acreditar no argumento básico de que tamanho de roupa tem algum sentido. Isso nos leva a valorizar o efeito que as roupas têm no nosso corpo.
Você vai em uma loja e pede uma peça no tamanho M, que é o seu tamanho, e fica grande. Então você pega o tamanho P e fica ótimo em você. Vai em outra loja e pede também uma peça no tamanho M, mas fica apertado e você tem que pegar o tamanho G. Na primeira situação você logo pensa que emagreceu, na segunda logo pensa que engordou. Isso nos faz pensar a todo momento que devemos seguir os padrões. Principalmente pra poder caber na peça que é do “nosso tamanho” né?
Eu não estou negando que talvez alguns cortes e modelagens possam sim alterar visualmente suas proporções gerais. Mas, na verdade, esse efeito é pequeno na melhor das possibilidades. Definitivamente não é algo que valha a pena comprometer seu estilo pessoal. Seu corpo é o que é, e as roupas não podem mudar isso magicamente.
Eu já escrevi como reconstruir seu guarda-roupa para um novo estilo e como fazer um detox no seu guarda-roupa aqui no blog, e eu tento descobrir técnicas e conceitos sempre que possível, porque todos nós temos um processo criativo diferente e achamos coisas diferentes úteis.
A mensagem que quero passar é:
Se você está tentando cultivar um estilo, você tem que primeiro passar por essa fase de experimentação. Então experimente diferentes cortes, cores, estilos e materiais, pra descobrir o que você ama e pra desenvolver sua própria estética. Tentar se vestir de acordo com os “padrões” para o seu tipo de corpo faz com que você descarte uma grande variedade de peças e combinações que podem ser maravilhosas.
Use as roupas que você gosta! Use roupas que expressem seu estilo e que você se sinta bem. E esqueça todo o resto, tipos de corpo, o que supostamente te “enaltece”, tudo isso. Se você achar que calça jeans de cintura alta é desconfortável, não use! Se alguém te disser que o que você está vestindo não favorece seu corpo, apenas ignore. Porque não é seu trabalho usar algo que faz você parecer o mais próximo possível do que é considerado ideal.
Use o que quiser. E questione as marcas e lojas sobre esse tipo de modelagem que eles oferecem. Se todo mundo começar a mandar a real, talvez comece a acontecer uma mudança.
Pathy Guarnieri
março 15, 2019Eu costumo usar o que me dá na telha, mas já deixei de comprar peças (vestidos longos, pantacourt, etc), por ser baixinha, acima do peso e não saber usar salto kkkkkkkkkk.
Acho que preciso me arriscar mais nesse quesito. xD
Beijo!
Cores do Vício
Thami Sgalbiero
março 19, 2019Sim! Se arrisque mais!!!
Leslie Leite
março 15, 2019Como formada em moda, eu vejo esse assunto de duas vertentes. Existe a consultoria visual que ajuda a pessoa a se vestir melhor, e sim, visando o que fica melhor em seu corpo (existem cursos e existe a profissão de consultoria, mais ou menos oque fazem no Esquadrão da Moda do SBT). E eu entendo isso, porém, sou defensora da ideia de que todo individuo deve usar aquilo que lhe deixa feliz e confortável. Por exemplo, eu tenho um corpo de triângulo invertido, meus ombros são mais largos que o meu quadril, por isso, sei que devo evitar volume na parte de cima do corpo, nas peças chamadas “tops” e deixar detalhes e volumes para o quadril, para as peças chamadas “bottons”, pois isso vai me deixar (visualmente) mais equilibrada. Maaaaaaaas, se eu quiser usar um babado numa brusinha, eu também NÃO TÔ NEM AÍ! AHUSHAUSHAU Surgiu essa moda de blusa ciganinha e eu num primeiro momento eu fiquei chateada por que sei que no meu ombro largo não ficaria bacana, mas falei isso pro meu marido e no outro dia eu estava na loja comprando uma ciganinha HAHAHAH ele deu apoio pra eu ser feliz usando o que eu quisesse.
Atualmente a consultoria visual de estilo e imagem trabalha exatamente com o estilo da pessoa, mas visando seu tipo de corpo, cores que favorecem seu tom de pele e esse tipo de coisa, mas tudo pensando no conforto do cliente. Já as matérias encontradas internet à fora são realmente muito mais tendenciosas e maliciosas.
Quanto à modelagem, dentro da indústria da moda existe sim um padrão, PRINCIPALMENTE DENTRO DO FAST FASHION! Já lojas slow fashion ou independentes são abrangem muito mais o padrão de tamanho e numeração de roupas, por isso que o que vc disse no texto sobre “questionar marcas e lojas” é tão importante.
Enfim, amei o post e se quiser continuar conversando me chama |O|
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Thami Sgalbiero
março 20, 2019Adorei seu comentário! Porque me apresentou duas visões diferentes sobre o assunto. E você está certíssima! Não tem que se prender por causa de uma peça ou por causa do seu “tipo de corpo”, sabe? Se você acha ciganinha um estilo de blusa bonito, use! Pois é, se eu tivesse dinheiro contrataria uma consultoria visual de estilo sim, vai que as ideias que me apresentassem fosse do meu grado né? Até porque existem infinitas peças e combinações que as vezes nem passam pela nossa cabeça e depois quando a gente veste fala “Uau! Como isso me deixa linda!”. Acho que parte da ideia da pessoa se sentir confortável mesmo. Tem um programa que eu assisto que acho ridículo o que eles fazem, meio que “obrigam” a pessoa a se vestir de tal forma por causa do tipo de corpo dela, sendo que não é bem assim. Dá pra apresentar uma outra ideia de estilo, mas não fique esperando que a pessoa tenha que usar isso. Adorei esse bate papo, hahaha! Pode deixar que qualquer hora to te puxando pra papear mais sobre isso mesmo. 😉
Paulina Oliveira
março 18, 2019Acredito que existem sim determinados tipo de roupas e modelos que “caem melhor” ou ficam visualmente mais bonitos em alguns tipos de pessoas. Mas acredito que a escolha de nossas roupas e do nosso estilo deve ser fruto daquilo que queremos e nos faz bem, e não imposto pela sociedade.
Thami Sgalbiero
março 20, 2019Exatamente! Se usar certa peça é o que você quer e se sente bem usando, que mal tem né?
Lívia Madeira
março 18, 2019mt legal esse texto, eu acho mesmo que existe um tipo de roupa que favorece cada tipo de corpo, mas sou mais adepta mesmo a que cada um só use o que quiser, que tiver vontade e se sentir a vontade sempre!
http://www.tofucolorido.com.br
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Kaila Garcia
março 18, 2019Amei sua forma de pensar e como você abordou esse assunto, Thami. Faz mais de um ano que estou tentando passar pela transição de aceitação, de me descobrir, me aceitar.. e isso me fez mudar o meu guarda-roupa completamente. Só agora estou conseguindo me encontrar, definir o que me deixa confortável, o que gosto de usar. Só que ainda pesquiso sobre meu tipo de corpo e me inspiro em peças que acho que me favorece. Um exemplo disso, é que me sinto muito bem com calças estampadas ou de cores mais vibrantes e peças mais neutras em cima. E isso é algo que combina com meu corpo que é o triângulo invertido. Mas sempre tento pensar que posso vestir o que quiser e que só devo usar aquilo que me deixa bem comigo mesma e não nos padrões. Enfim, não sei se deu para entender o que quis dizer, RS. Mas tenho encontrado meu equilíbrio no meio dos dois termos.
https://www.kailagarcia.com
Thami Sgalbiero
março 20, 2019Entendi sim, haha! Pois é, o certo nisso tudo mesmo é você se sentir bem com a peça que está usando. Se você se sente bem usando calças estampadas, use. Não é seu tipo de corpo que vai dizer o que combina com você, é você mesma.