4 lições que aprendi com o luto e como elas mudaram minha vida

Quanto maior o apego a pessoa que a gente perde, maior é o sofrimento do luto. Chegam as lembranças boas e logo depois elas dão espaço a um enorme vazio e aquele pensamento “Nada mais vai ser como antes”. Quando criança, lembro de todas as vezes que ficava na casa dos meu avós, até porque me e sentia mais “em casa” na casa deles do que na minha própria casa – e até hoje me sinto assim. Lembro também de todos os passeios que meu pai me levava, principalmente à praia (até mesmo depois de “velha”).

Pelo que você provavelmente pode deduzir, meu pai não era o típico pai com quem você pode ter crescido. Ele era um cara analítico, empático, bom com palavras e atitudes, um rebelde incorrigível – gostava de contrariar -, e um espirito livre (ninguém o segurava). Quando ele se foi no ano passado, 2020, eu fiquei arrasada – e todo mundo também. Foi um susto enorme esse infarto. Só quando comecei a lidar com a minha dor de luto de maneira produtiva é que percebi uma coisa: as pessoas que amamos nos deixam aprendizados nos mínimos detalhes – só basta encontrar.

1. A vida é muito curta para ser chata

Sempre fui uma garota monocromática. Eu amo um belo casaco de moletom preto, uma calça confortável jeans e joias de ouro delicadas. Meu quarto sempre foi decorado em tons neutros (paredes brancas e móveis de madeira), e sempre fui feliz com isso. Meu pai por outro lado, tudo sempre foi uma mistura. Das calças jeans às camisas rosa, verde, caramelo e jaquetas de couro que ele usava sempre em dias de chuva – jaquetas essas que variavam de preto ao caramelo. Ele era um grande defensor do conforto em toda e qualquer situação.

A lição que fica

Quando ele me deixou, eu queria homenagear de maneiras pequenas e cotidianas. Para mim, isso parecia como adicionar mais roupas confortáveis nas minhas saídas, virei fã de roupa esportiva – e eu nem sou tão ativa assim. Mais importante, foi um lembrete para mim de que ele não gostava de coisas normais. A vida é muito curta para ser normal o tempo todo. A perda é pesada, mas encontrar pontos brilhantes para lembrar da pessoa amada é uma maneira de aliviar essa carga. Ao encontrar pequenas maneiras tangíveis de lembrar a pessoa que você perdeu, o processo de luto pode se encurtar. (Junto de uma consulta com uma psicóloga, melhora ainda mais!)

luto
Além do meu pai ser fã do Freddy Mercury, nada melhor do que esse artista para ilustrar o “fora do padrão”.

Meu desafio para você

Adicione um pouco de cor no seu quarto, troque as coisas de lugar ou escolha aquela roupa confortável em vez das apertadas que você só quer chegar em casa e arrancar do corpo.

A vida é muito curta para ser normal o tempo todo. A perda é pesada, mas encontrar pontos brilhantes para lembrar da pessoa amada é uma maneira de aliviar essa carga.

2. Espalhe um pouco de amor em homenagem a pessoa querida

Como um contador, praieiro e um homem que não tinha vergonha de nada, meu pai fez o seu melhor para ensinar minha irmã e eu sobre como éramos sortudas por morar em um país que tinha o melhor dos dois mundos, a cidade e a natureza. Ele também nos ensinou em como era bom sair da sua zona de conforto. Ele passava suas sabedorias que aprendeu em toda sua vida, de alguma forma – mesmo vivendo no limite às vezes -, e eu nunca ouvi ele choramingar. Inclusive ele era muito orgulhoso pra pedir ajuda. Se não sabia fazer tal tarefa, aprendia para fazer sozinho.

Nesse um ano que se passou sem ele, eu fiquei bastante ciente das tarefas que tinha em casa e em que eu poderia estar ajudando. Muitos de nós provavelmente entendemos a dependência que geralmente ocorre quando perdemos alguém próximo – aquele equilíbrio entre honrar alguém e lembrar que não eram pessoas perfeitas – que pode adicionar um elemento confuso a uma época já confusa. Embora eu tenha certeza de que meu pai tinha qualidades que certamente não eram grandes, escolher abraçar seu amor pelo mundo e pela independência me ajudou a me tornar uma pessoa melhor em todos os sentidos.

A lição que fica

O luto é um processo confuso e complicado, e nada disso é particularmente alegre. No entanto, escolher abraçar e viver os pontos da vida que essas pessoas queridas te deram alegria é a maneira mais segura e rápida de dar a si mesmo alguma faísca de melhora.

Meu desafio para você

Saia da sua zona de conforto e ofereça ajuda ao próximo quando for solicitado, ou quando você perceber que a pessoa precisa e você pode ajudar. Porém não faça NADA esperando algo em troca, faça de coração e por querer mesmo.

3. As pessoas fazem toda a diferença

Depois que meu pai se foi, tinha o trabalho intensamente e nada divertido nas minhas mãos de mexer nas coisas dele. Eu me encontrei no notebook dele vasculhando os milhares de documentos dele. Encontrei uma coleção poemas que ele digitava e minha vó encontrou os que ele escrevia a mão. Ele sempre foi bom com as palavras, mas sempre foi difícil em expor seus sentimentos cara a cara. Como contador e super analítico, entendo como é raro esse tipo de pessoa demonstrar seu amor abertamente, mas o que ele não fazia de forma clichê, ele surpreendia com atitudes, falas e escritas.

A lição que fica

A verdade é que nossa vida é cheia de pequenos momentos e encontros aparentemente comuns que podem, literalmente, mudar vidas. Podemos estar na fila do banco ou fazendo amizade no trabalho, a frase que li no Pinterest uma vez é real: as pessoas simplesmente nunca esquecerão como você as fez sentir. Em um mundo turbulento e cheio de lembretes de que a vida pode mudar rapidamente, é nosso trabalho construir relacionamentos significativos e amor da melhor maneira possível. Afinal, nem um único dia é garantido.

Meu desafio para você

Pegue o telefone e mande mensagem ou ligue para alguém com quem você não fala há algum tempo, escreva um bilhete de agradecimento para um professor que te influenciou ou faça questão de ter uma conversa verdadeira com quem você ama.

As pessoas esquecerão o que você disse, as pessoas esquecerão o que você fez. Mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir.

Carl W. Buehner

4. Nunca, jamais pare de pesquisar

Meu pai estava sempre procurando por algo. Passei 27 anos da minha vida com ele, e nesse tempo eu o vi explorar a arte de todas as formas. Ele estava em uma busca constante pelo auto aperfeiçoamento, uma compreensão do além e devoto a São Jorge. Embora ele não fosse totalmente religioso, ele também me lembra de como é importante nunca parar de observar e aprender. Embora a religião possa ser um exemplo extremo, é nosso trabalho questionar o mundo em que vivemos. É nosso trabalho observar as coisas, experimentar novos métodos de vida e ser contrário aos padrões enquanto podemos.

A lição que fica

Perder alguém é uma montanha difícil de escalar e muitas vezes levanta questões que não existiam antes. No entanto, eu sinto que não tem nada que possa honrar melhor aqueles que amamos do que pegar aquele desgosto e tristeza e transformar em uma experiência de aprendizado. Estamos aqui apenas por um curto período de tempo, e aproveitar ao máximo cada segundo é a única boa maneira de fazer isso.

Meu desafio para você

Faça terapia, baixe um aplicativo e comece a meditar, ou abra um novo livro de autoajuda que o desafie. Sugiro o app Meditopia que eu já usei e achei muito bom as meditações gratuitas que tem disponíveis. Mas você pode encontrar meditações totalmente gratuitas no Spotify, como essa playlist aqui e outras que tem na sessão de bem-estar.

É nosso trabalho observar as coisas, experimentar novos métodos de vida e ser contrário aos padrões enquanto podemos.

Talvez a lembrança mais vívida do dia em que meu pai se foi seja do dia anterior da gente comendo pizza todo mundo junto na casa da minha vó e pensar comigo mesma que era meu trabalho manter todos os outros juntos. Agora somos uma família de mulheres unidas e com ideias semelhantes, e minha vó perdeu o filho naquele dia, minha mãe perdeu o marido. Do jeito que eu me vi, não queria me permitir chorar ou ser dominada pela dor. Na minha cabeça, se eu fizesse isso, estaria decepcionando todo mundo, inclusive meu pai que era o cara mais forte que conheci – junto ao meu avô, pai dele. Então, eu me afastava de todos e escolhia momentos do dia em que eu estava sozinha para chorar e sentir a minha dor do luto.

A lição final

Analisando o que aconteceu, toda essa ideia de “Preciso ser forte” e “Não posso chorar” me afastou de todas as lições que tanto meu avô quanto meu pai já tinham me ensinado. Os sentimentos existem por uma razão, e as pessoas que amamos nos deixando é terrivelmente doloroso. Em vez de afundar em nós mesmos com o luto, todos devemos nos elevar amando profundamente as pessoas, melhorando constantemente a nós mesmos, enviando amor para todas as direções e fazendo isso vestidos com roupas que nos confortam.

Afinal, o que resta sem cor, luz, amor e emoção? Nada além de escuridão causada pelo luto. Quando as pessoas que amamos nos deixam com o bem, temos que seguir em frente.

via GIPHY

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5 Comments
  • Emerson
    novembro 3, 2021

    Caiu uma lágrima aqui. Que bom que você tem superado o luto. Superar o luto não é esquecer das pessoas, mas lembrar delas com amor e carinho. E você tem feito isso muito bem.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

  • Camila Faria
    novembro 17, 2021

    Que post lindo Thami, fiquei realmente tocada. Eu também perdi o meu pai por infarto e, nossa, como é dolorido, né?
    Suas palavras me fizeram um bem enorme, obrigada! <3

  • Adriel
    novembro 19, 2021

    oi, oi.

    thami, que texto lindo e maduro. eu sei que a dor é imensa, mas aos poucos ela vai se transformando em saudades e a gnt vai aprendendo a lidar com isso.

    tbm perdi o meu avó, que era como um pai, em abril de 2020. ele me ajudou na criação até os 7 anos, então o nosso vínculo era grande. este ano, quando fui ao cemitério visitá-lo, senti uma paz tão grande… é como se ele quisesse me dizer que onde estava tudo corria bem. foi um conforto.

    assim como vc, tentei ser o suporte pra minha família. minha avó ficou devastada, minha mãe tbm sofria… mas a vida segue e a gnt precisa ir encontrando forças.

    achei lindo o que vc disse de ir incorporando no nosso dia a dia as coisas q essas pessoas tão queridas gostavam. é uma forma de tê-las presentes com a gnt, né?!

    te desejo muita força, amor e dias bons. seu papi com certeza tem orgulho de vcs! <3

    bj!

    • Carli
      maio 6, 2022

      Que lindas as suas reflexões.
      Perdi meu pai recentemente, já havia perdido minha mãe há 7 anos. Aprendemos com o luto e seguir o legado de quem amamos é a melhor forma de manter lembranças especiais.

  • Caique
    dezembro 22, 2021

    Amei seu artigo, e senti a maioria das coisas nos ultimos anos.
    Acho que sem esse processo da morte/doença que vivenciei, nunca seria quem eu sou hoje e não saberia aproveitar melhor a vida.
    Buscar resignificar os ocorridos é sempre o melhor caminho, principalmente no luto.